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O 8º Congresso Brasileiro sobre Gestão do Ciclo de Vida (GCV 2023) foi realizado de 28 a 30 de novembro de 2023, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo. O evento, que reuniu mais de 150 profissionais de diferentes áreas, teve como tema a “ACV na transição para uma economia circular e de baixo carbono”. Promovido pela Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV), em parceria com o IPT e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), o objetivo do evento foi discutir os avanços da avaliação do ciclo de vida (ACV) no Brasil, bem como sua importância para a transição para uma economia mais sustentável.

Durante os três dias o congresso cumpriu o propósito de da ABCV de reunir de maneira equilibrada a academia, o setor produtivo e o governo para apresentar resultados da aplicação da técnica de ACV, discutir os avanços metodológicos e analisar os potenciais usos da perspectiva do ciclo de vida em políticas públicas. Para Gil Anderi da Silva, presidente da ABCV, destaca que a busca contínua pela interação entre academia e setor empresarial vem sendo um objetivo programático da ABCV.

GCV 2023

Prof. Gil Anderi da Silva, presidente da ABCV

 

“Nestes seus 20 anos, os Congressos de Ciclo de Vida são, sem dúvida, a principal via de destino da maior parte da produção acadêmica do tema e, no frete de retorno, o setor empresarial vem crescendo de forma significativa, sendo seu principal cliente. Aponto a economia circular como o melhor exemplo desta parceria. Nas décadas finais do século passado, o saudoso Professor João Salvador Furtado desviava a ACV do túmulo para direcioná-la cada vez mais para do berço ao berço, hoje revestida com a beca vitoriosa da economia circular. Os frutos do oitavo Congresso GCV, certamente confirmarão esta transição”, declara professor Gil Anderi da Silva.

Resultados do GVC

Thiago Oliveira Rodrigues, pesquisador sênior do projeto de Avaliação do Ciclo de Vida do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (ibict), e vice-presidente da ABCV, ressaltou a importância do tema em consonância com as tratativas da COP 28 – 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorreu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre 30 de novembro e 12 de dezembro, e teve como objetivo acelerar a ação global para enfrentar a emergência climática. “Nesses dias em que a COP 28 estava em alta, o 8º Congresso Brasileiro sobre Gestão do Ciclo de Vida – GCV 2023 destacou temas que tiveram tudo a ver com o que foi discutido na conferência da ONU e,dentro da nossa proposta, atingimos com êxito o que foi planejado nos meses de organização desta edição do GCV”, informou.

Segundo Thiago Rodrigues, no dia 28 foram realizados cinco minicursos com salas cheias, abordando temas, como “Introdução à ACV (ABCV – Associação Brasileira de Ciclo de Vida)”; “Introdução ao Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção (SIDAC – Escola Politécnica da USP)”; “AICV ambiental e social (RAICV Brasil)”; “Introdução ao SIMAPRO (ACV Brasil)”; e “Declarações Ambientais de Produto (Fundação Vanzolini | Certificação)”.

GCV 2023

Thiago Oliveira Rodrigues, vice-presidente da ABCV

 

No dia 29, foi realizada a abertura oficial do congresso, com duas palestras magnas dedicadas a discutir sobre sustentabilidade absoluta, efeito rebote (DTU – Technical University of Denmark) e declarações ambientais no futuro próximo (EPD System International Latin America). “A primeira plenária foi moderada pela casa que nos recebeu, o IPT. Foram três falas sobre CCD Circula, economia circular na indústria (Gerdau) e o papel do governo, representado pelo Ibict, como agente de promoção da gestão da informação para sustentabilidade”, destaca Rodrigues.

Conforme ele, a segunda plenária, conduzida pela Rede ACV | Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo de Vida promoveu uma mesa com representantes da academia (UniSantos – Universidade Católica de Santos) e da indústria (ArcelorMittal Brasil, Braskem, Petrobras, Indorama Ventures: Integrated Oxides &Derivatives) que discutiram sobre mudanças climáticas, ACV e profissionais “acevistas”.

No dia 30, o evento começou com a plenária dedicada às bases de dados de ACV. “Além da apresentação sobre o SICV Brasil, tivemos outras sobre as bases de dados do Peru ( Red Peruana Ciclo de Vida y Ecología Industrial PELCAN ), do Equador ( RedEcuatoriana de Ciclo de Vida y Economía Circular ) e da base internacional ecoinvent”, completou o pesquisador.

Segundo Rodrigues, a última plenária foi coordenada pela RAICV e trouxe discussões metodológicas e científicas sobre impactos ambientais causados pela emissão de materiais particulados, ACV Social e as fases opcionais da AICV (ponderação, agrupamento e normalização).

“Além das plenárias, tivemos 12 sessões orais paralelas com apresentação de algumas dezenas de trabalhos sobre os mais variados temas como energia, agroindústria, políticas públicas, construção civil, AICV, inventário do ciclo de vida, ecoeficiência e custeio do ciclo de vida”, conta Thiago, destacando que foram 131 inscritos e, pela primeira vez, o GCV teve uma participação maior das empresas que das universidades. “Esse equilíbrio é uma meta contínua do GCV. Agora é trazer mais representantes do governo para a próxima edição”, pontua.

Destaques edição GCV 2023

O INSTITUTO FORTE também esteve presente na área de estandes. Conforme Thiago Rodrigues, o instituto faz um belo trabalho social com o projeto Reciclando Vidas de homens em situação de rua em Guarulhos. “Vale a pena conferir o trabalho deles e apoiar”, frisa. Outra participação de destaque foi o PECE Poli USP que ainda concedeu o prêmio de melhor trabalho, um curso de Especialização em Gestão e Tecnologias Ambientais – MBA-USP à distância.

A própria ABCV se fez presente na área de estandes, durante todo o evento, expondo painéis que prezaram pela sustentabilidade por meio da eliminação da distribuição de materiais impressos, apresentando suas atividades via painéis institucionais com QR Codes que levavam para o portfólio da ABCV, bem como para pesquisa simultânea de levantamento de interesse pelo tema ACV, identificando também profissionais especializados em ACV, dentre outros. Além dos painéis, o diretor da ABCV Afonso Sérgio de Sant’Anna Gomes conduziu entrevistas e apresentações, via digital, aos interessados em conhecer mais sobre os trabalhos desenvolvidos pela ABCV. “A importância em continuar a realizar eventos como o GCV reside justamente nessa oportunidade de consolidarmos nossa missão de congregar pessoas físicas e jurídicas que se interessem pelo desenvolvimento e aplicação da técnica Avaliação do Ciclo de Vida – ACV no Brasil”, relata o diretor da ABCV.

O vice-presidente da ABCV celebra a edição bem-sucedida. “Apesar do trabalho que dá, a compensação é valiosa. Os encontros e reencontros foram fortalecedores. Muito bom rever parceiras de longa data que estão se renovando e conhecer tantas outras novas pessoas, engajadas no uso e fomento da ACV no Brasil e no mundo”, declara.

Thiago Rodrigues fez um agradecimento especial aos patrocinadores do GCV 2023: Petrobras, Fundação Eco+ BASF e Indorama Ventures: Integrated Oxides & Derivatives Oxiteno. “Ao patrocinar o congresso, essas empresas investem na busca por soluções para os desafios socioambientais do Brasil e confiam na ACV como uma ferramenta robusta e transparente”, salienta.

Ele lembra que o próximo GCV ainda não tem local definido, mas tem data (ano): 2026! “Retornaremos aos anos pares para não conflitar com os outros eventos de ACV que temos no mundo como o CILCA e o LCM. Mas não ficaremos sem eventos de ACV até lá. Em 2024 teremos o “9th S–LCA Conference”, em Curitiba, nos dias 28 a 31 de maio. E continuem acompanhando a ABCV no site e nas redes sociais. No 2º semestre de 2024 realizaremos um evento, seguindo com outros semestrais até o nosso encontro oficial no GCV 2026! Vida longa à ACV brasileira!”, recomenda.

GCV 2023

Participantes

Experiências do GCV que somam para a expansão da ACV no Brasil e em nível global

O tema do GCV 2023 “A ACV na transição para uma economia circular e de baixo carbono”, visou mostrar as ferramentas que podem contribuir com os esforços para atender a urgência de reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa e de promover, de forma sustentável, a circularidade das cadeias de valor, uma vez que a ACV se torna uma grande aliada para avaliar os reais benefícios de diferentes iniciativas para este grande objetivo. Com esse foco, o congresso convidou os mais renomados especialistas no setor.

A programação contou com palestras de: Daniela Pigosso – DTU, Dinamarca; NydiaSuppen – EPD, América Latina; Naiara Lopes – GERDAU; Geraldo Reichert – Limpeza Urbana/POA-RS; Eloísa Garcia – ITAL; Daniel Falchetti – Oxiteno/Indorama; Karla Censi – BRASKEM; Diego Magalhães – ArcelorMittal; Flávio Ribeiro – UniSantos; Montserrat Carbonell – Petrobras; Beatriz Rivela Carballal – Amaru, Equador; Ian Vázquez-Rowe – PELCAN, Peru; Daniela Bauman – Ecoinvent, Suíça; Marcell Maceno – UFPR; Jaylton Araújo – UTPFR; e Diogo Silva – UFSCar. Além dos especialistas que participaram na qualidade de moderadores: Claudia Teixeira – IPT; Sonia Chapman, Rede Empresarial Brasileira de ACV; Thiago Rodrigues – SICV Brasil/ibict; e Gabriela Giusti, UFSCar/Rede de Pesquisa em Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida (RAICV).

Destacamos algumas das considerações de especialistas que estão a longo tempo na área, visando compartilhar suas experiências e orientações para a consolidação da ACV no Brasil abordando questões como a importância da realização deste 8º Congresso de GCV, promovido pela ABCV; os temas apresentados e suas conexões com a ACV e outros conceitos, como o ESG (compromissos ambientais, sociais e de governança); como essas ferramentas, metodologias e paradigmas podem ter um incremento, ou proporcionar a expansão de sua aplicação no Brasil e América Latina, ou nos países onde esses profissionais atuam; a importância de um Programa de Certificação Profissional de Pessoas em ACV no Brasil e seus reflexos no mercado de trabalho e apoio para as empresas, entre outras questões que envolvam o futuro para a aplicação da ACV em nível global. Acompanhe:

Aporte técnico, trocas de experiências e conexões é o legado do Congresso GVC para a ACV no Brasil

O engenheiro Daniel Falchetti, gerente de Sustentabilidade Global – Produtos e Operações da Indorama, destaca que a Oxiteno, que agora é a Indorama no Brasil, é um membro patrocinador do Congresso GCV histórico. Ele informa que desde que está na Companhia, desde 2017, ela já patrocina. Entre as razões destaca-se que é um local em que fato os representantes da empresa conseguem se reunir, enquanto região, trocar experiências, conhecer a visão da academia, conhecer a visão dos institutos de pesquisa, e conectar também com a indústria.   “Acho que este momento é bem rico para essa troca de visões, com cada uma tendendo para um lado, utilizando as mesmas ferramentas, obviamente a Avaliação de Ciclo de Vida, a Gestão, então é um momento importante para conhecermos o que esses elos da cadeia estão fazendo, além de contatos também. Portanto, considero que é bem importante para se conhecer presencialmente, porque esse mundo é pequeno e, eventualmente, acabamos nos conhecendo mais conectados pelas redes, por isso acho que é um misto entre aporte técnico, trocas de experiências e conexões. Esta é a importância do Congresso GVC para mim”, destaca.

GCV 2023

Momento das palestras

 

Daniel Falchetti apresentou um panorama das mudanças climáticas e de como elas estão afetando os negócios das empresas. Ele destacou que, para se descarbonizar, as empresas precisam entender e quantificar os impactos ambientais dos seus processos e produtos. Nesse contexto, o profissional de ACV tem um papel fundamental. “Muitas empresas, de pequeno, médio e grande porte, têm o desafio de calcular o Escopo 3 das suas emissões de gases de efeito estufa. Essa tarefa requer a realização de estudos de avaliação do ciclo de vida (ACV), que são complexos e exigem profissionais qualificados”, explicou. O especialista acredita que esse é um momento propício para as empresas investirem em ACV. Isso porque as companhias estão cada vez mais preocupadas com a sustentabilidade e precisam de informações confiáveis para tomar decisões estratégicas.

Com sua tradição, o GCV sempre fomenta debates e interações sobre ferramentas que podem impulsionar o Brasil na área de ACV, como o Programa de Certificação Profissional de Pessoas em ACV no País. Daniel Falchetti afirma que a iniciativa é primordial e não existe outro caminho para alavancá-la no Brasil. Ele conta sua experiência nesse processo, pois participa e está nessa jornada de avaliação de ciclo de vida desde 2010. “Entrei na BASF e aprendi a fazer ACV, não pela academia. Importamos essa tecnologia da BASF, da Alemanha, e isso veio passando de geração em geração dentro da equipe. Com o início da Fundação Espaço Eco, esses ensinamentos foram sendo passados para as novas pessoas que chegavam à equipe, acontecendo, assim, uma transferência de conhecimento, mas nunca certificada”, observa.

Ele continua destacando que é da mesma maneira que conhece colegas, as consultorias com as quais atua, hoje, mais com a ACV Brasil, porque atualmente tem trabalhos spot (o termo “spot” vem do inglês e significa instantâneo, imediato, ou seja: trabalhos de curta duração ou pontuais), mas estavam cogitando de voltar a fazer trabalhos com o GP2 (Grupo de Prevenção da Poluição, mantido pela Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, mais especificamente, pelo Departamento de Engenharia Química). “Vejo que também a academia tentou ensinar um pouco de ACV, mas é no mestrado que talvez a pessoa se aprofunde.Não sei hoje a realidade como está, mas os colegas antigamente eram assim, tinha algumas matérias no mestrado, aprofundava dentro de GP2 ou em outras universidades, utilizando softwares, por exemplo. Por isso, conforme a minha visão considero que precisa, de fato, que exista um curso mais maduro, que certifique, que dê esse respaldo técnico na ACV. Acho que existem poucos profissionais disponíveis no Brasil, portanto é escasso o universo de profissionais que atuam com avaliação de ciclo de vida.   Para se ter uma ideia, recentemente precisei contratar duas pessoas, para um time interno e tive muita dificuldade para conseguir.  Foi preciso um trabalho de capacitação, pois tinha duas linhas a seguir: ou eu acho um profissional que conheça de Avaliação de Ciclo de Vida pronto e explico a química para ele, o universo da nossa empresa; ou eu trago alguém que conheça de química e explico ACV pra ele e o capacito em ACV. Naquele momento, não achamos um profissional que tivesse essa combinação, então seguimos a linha de recrutar os profissionais que tinham mais base de Química, Engenharia Química, Processos Industriais, e estamos fazendo essa capacitação no dia a dia. Sendo assim, se tivéssemos um programa de capacitação, profissionalização desses profissionais, um banco de talentos para acessarmos, facilitaria muito a vida, não só minha, mas de muitas empresas e consultorias também.   E é algo que a ABCV já vem trabalhando há muitos anos para tentar operacionalizar”, informa.

Desta forma, Daniel Falchetti observa que para suprir essa lacuna, existem algumas possibilidade que somente oferecer apenas a certificação com a submissão a um exame para verificar se aquela pessoa tem a competência para ser um profissional em ACV certificado?. “Temos um residual dos profissionais que aprenderam, se capacitaram, às vezes por conta própria, na marra, e que talvez uma certificação seria suficiente até para eles poderem, depois, pleitear alguma coisa na indústria, ou em consultorias, portanto, essa linha também pode ser importante para atender essa demanda.   E tem as pessoas que estão chegando agora, que se interessam e querem buscar informações. São os casos dos profissionais que aprenderam um pouco com o professor, um pouco na empresa, mas que sentem ainda uma necessidade de se aprofundar em alguns termos, então, o curso também seria importante. Trabalhar com essas duas linhas seriam boas no Brasil e atendem os públicos diferentes. Temos que lembrar que o ciclo de vida precisa formar massa crítica e temos todas as condições, por meio da academia, professores, laboratórios. Aqui está o berço da avaliação de Ciclo de Vida no Brasil, como o Prof. Gil Anderie companhia, está tudo aí!”, aponta.

O especialista falou também das ferramentas que podem ajudar na expansão da ACV no Brasil. Falchetti lembrou que muitas empresas conhecem a ferramenta de avaliação de ciclo de vida, mas poucas conhecem com a profundidade necessária. Essa pode ser uma barreira para a ampla adoção da ACV pela indústria.

Ele observou que, de modo geral, as áreas de sustentabilidade nas empresas brasileiras são pequenas. Isso exige maturidade da área, da mesma forma que áreas financeiras ou jurídicas. Sem essa maturidade, as empresas podem não ter recursos ou pessoal especializado para realizar estudos de ciclo de vida. “As empresas podem buscar consultorias para realizar esses estudos, mas isso pode ser uma barreira econômica. Além disso, os estudos de consultoria geralmente são aprofundados e demorados, o que pode atrasar a tomada de decisão”, comenta.

Além das ações do GVC, a academia e os institutos de pesquisa também podem contribuir para a expansão da ACV. A academia pode desenvolver pesquisas e formar profissionais capacitados, enquanto os institutos de pesquisa podem fortalecer os bancos de dados e desenvolver ferramentas e metodologias mais eficientes.

Segundo Falchetti, para incrementar a aplicação da ACV, é preciso pensar em soluções que sejam mais rápidas e acessíveis. “A digitalização da ACV, por exemplo, pode tornar os estudos mais eficientes e reduzir os custos”, observa e, acrescenta: “a BASF desenvolveu alguns modelos de ACV digitalizados que podem ser executados em poucos passos. Esses modelos são mais simples e rápidos do que os métodos tradicionais, mas podem ser uma boa opção para atender às necessidades das empresas em um primeiro momento”.

GCV 2023

Participantes

Para a ACV alcançar um patamar profissional no Brasil, educação é fundamental

A Prof.ª Dra. Daniela Cristina Antelmi Pigosso, do Depto. de Engenharia Civil e Mecânica, da DTU – Technical University of Denmark, professora em Design Sustentável e Economia Circular, destaca a importância do GCV no Brasil por considerar que a gestão do ciclo de vida é fundamental para que o País alcance a sustentabilidade de maneira geral. “E o congresso traz isso, pois tem um papel relevante, não só do ponto de vista de pesquisa em gestão do ciclo de vida, mas também do ponto de vista de indústria, de se encontrar, trocar ideias, trocar experiências e tudo mais, e de inspirar novos alunos a ingressarem nessa área. Para mim, é um ganha-ganha do ponto de vista de educação, de pesquisa e também de aplicação na indústria”, salienta. “Além disso, é muito legal ver pessoas do governo no GCV, tentando entender como traduzir esses aprendizados para as políticas públicas e tudo mais. Portanto, é uma iniciativa sensacional, extremamente importante para avançar o ciclo de vida e pensamento de ciclo de vida no Brasil”, frisa.

Daniela Pigosso abordou em sua apresentação o tema “Sustentabilidade absoluta”, que tem como objetivo estabelecer, não mais uma forma de medida relativa de sustentabilidade, mas absoluta.   “Minha palestra trouxe uma visão absoluta de medida de sustentabilidade, que é muito importante para não só dizermos se um produto é mais ou menos sustentável do que o outro, mas se ele é sustentável de forma absoluta, considerando os limites planetários ou não. Assim, ligado a isso, também abordei o aspecto do efeito rebote, porque muitas vezes as nossas ações, super bem-intencionadas, não levam a um melhor desempenho de sustentabilidade. Por isso, devemos considerar quais são as potenciais consequências não intencionais e negativas de qualquer intervenção que tem um melhor desempenho ambiental para ver o que pode acontecer para limitar isso de acontecer. A prevenção de efeitos rebote nas fases iniciais do desenvolvimento de novos produtos, serviços, modelos de negócio, tecnologias, estratégias de negócio, é imprescindível para prevenir a ocorrência de efeitos rebote e atingir a sustentabilidade absoluta também”, explica.

Daniela ressalta que a ACV é uma grande ferramenta que auxilia na identificação de impacto ao longo do ciclo de vida. “Já existem metodologias de consideração de sustentabilidade absoluta na ACV, que é o chamado AESA – Absolute Environmental Sustainability Assessment, que traz essa visão complementar a tudo o que já existe nessa área”, informa.

Para ela, as ferramentas para expansão de aplicação da ACV no Brasil e América Latina já estão no radar das organizações público e privadas, por meio de combinações tanto de fatores de mercado, que consideram requisitos de sustentabilidade para relacionamentos “B2B – business to business” ou “B2C – business to consumer”.  “Elas são importantes para que as empresas e os governos entendam a necessidade de trabalhar rumo à sustentabilidade”, cita a especialista.

No caso das empresas, Daniela avalia que mesmo que diversas empresas já entendam o papel que elas têm nesse processo, muitas ainda precisam entender, em especial pelo ponto de vista legal, devido às legislações em vigor, entre outros fatores. “Nesse contexto, observo que grande parte dos avanços atualmente são voluntários e não legais”, alerta. Para ela, em alguns casos, a legislação pode até limitar o desenvolvimento da sustentabilidade, porque estabelece o mínimo, e algumas empresas optam por atender a esse parâmetro mínimo ao invés de tentar ser cada vez melhor. “Vejo que uma forma de expandir esse tema no mundo, de maneira geral, é por meio de exigências de mercado, exigências do consumidor, exigências legais, e esse trabalho por meio das empresas, vindo a entender o papel que elas exercem na sociedade como um todo, e, consequentemente, a influência para as melhorias necessárias. Mas, consumo também é fundamental, portanto é importante que cada um de nós, como consumidores, entendamos o nosso papel e façamos a nossa parte pela sustentabilidade”, salienta.

Daniela Pigosso também comenta sobre o Programa de Certificação Profissional de Pessoas em ACV no Brasil. A especialista aponta que para avançarmos nessa área, a educação, de forma geral, é fundamental.   “A questão deve ser abordada nas faculdades, em cursos para gestão ambiental, de engenharia ambiental, de produção, de disciplinas específicas para a área ambiental. Ou separadas. Se não tiver dentro do programa das academias, que sejam abordadas em disciplinas específicas dentro da universidade, para que esse conhecimento seja ‘cross’”, ressalta.

Para ela, é importante que não somente as pessoas que façam ACV saibam o que é ACV, mas também pessoas que estão relacionadas aos processos de tomada de decisão, para entenderem o que é ACV, saibam porque é importante e como isso pode me ajudá-las. “Dessa forma, se eu sou um engenheiro de produção tradicional, não tenho o menor interesse em ser uma pessoa que faz um ACV e fica barrada. Mas, eu preciso entender o que é, por que é importante e tudo mais. Ao menos que isso aconteça, as pessoas que fazem ACV sempre vão ter muita dificuldade em mostrar relevância, em comunicar e fazer com que os resultados da ACV não sejam só para a humanização externa, mas que alterem a forma como fazemos negócios de maneira geral nas empresas. Portanto, esse entendimento é fundamental”, completa.

Com relação a certificação, Daniela destaca que podem ter prós e contras. Entre os fatores para isso, pode-se criar uma organização que acaba virando a dona do ACV em um país e isso pode gerar limitações para profissionais virem de fora, entre outros pontos. “O grande desafio é entender como avaliar de forma correta. Acredito que ter uma certificação profissional não garante que a ACV, que essas pessoas a estão fazendo, tem maior ou menor qualidade, ou tem melhor qualidade, porque ainda podem ser feitas de diversas formas. Além disso, vocês não estão checando a ACV, estão checando o profissional em si, se eles têm a competência necessária para fazer.  Mas acho que pode ser interessante, desde que focando na necessidade de prover a educação, primeiro. Na formação, já, de maneira próxima, para que não só os especialistas saibam o que é ACV, mas que os outros também saibam”, contextualiza.

GCV 2023

Participantes

A relação da ACV com o ESG para tratar as questões ambientais nas empresas

A apresentação feita pela Dra. Montserrat Motas Carbonell, representante da Petrobras, no painel da indústria, mostrou como a ACV vem se inserindo no dia a dia das empresas e se tornando uma ferramenta importante na transição energética. Tudo começa no Planejamento Estratégico da empresa, em que um dos direcionadores da atuação em ASG (Ambiental Social e Governança) é “reduzir a pegada de carbono”.

Isso se desdobrou no desenvolvimento de novos produtos, nos estudos de ACV com foco no impacto potencial em aquecimento global e no lançamento de produtos de baixo carbono, cada qual com sua característica: menor temperatura de aplicação no caso do asfalto, conteúdo renovável no caso do diesel R e até um produto carbono neutro no caso da Gasolina Podium. No desenvolvimento da gasolina Podium foi feita a revisão crítica da ACV por consultoria especializada, como a ISO 14044 recomenda. Além disso, foi elaborado um documento com informações sobre as principais premissas, limitações e resultados dessa ACV, que está no site da Petrobras para consulta de quem se interessar. E os trabalhos seguem, com novos testes para o desenvolvimento de novos produtos e com aperfeiçoamentos no cálculo das ACVs.

Falando sobre o uso da ACV nas empresas, Montserrat comentou sobre a importância da colaboração e sobre como esse trabalho vem sendo realizado por equipes multidisciplinares. A atuação do especialista em ACV é fundamental, tanto na equipe interna de ACV como fora da empresa para a realização das revisões críticas.

GCV 2023

Participantes

Conexões globais vão proporcionar uma maior utilização e troca de conceito e metodologia em prol da ACV

A engenheira Karla Krivtzoff Lagüéns Censi, gerente de Soluções Sustentáveis da Braskem, avalia que o GCV é o maior fórum de ACV do país, no qual diversos setores têm a oportunidade de dialogar e apresentar seus cases, metodologias e conceitos.

“Ter um fórum dessa magnitude acontecendo em um período tão crítico e importante para as empresas de reportar suas metas e ambições e de desenhar como chegar lá e como medir é extremamente rico”, comenta. Ela complementa que o tema especial desse ano, com foco na utilização da ACV para uma transição (justa) para uma economia circular e de baixo carbono, não poderia ser mais assertivo. “Falamos de clima, passamos por resíduo, aproveitamento, consumo consciente e inclusão social – todas as dimensões analisadas sob a ótica da ciência”, conta Karla Censi.

Ela também considera que a ACV pode ter uma expansão para a sua aplicação em diversos países. “Acredito que o incremento de sua utilização se dá quando divulgamos amplamente os benefícios de quem já utiliza, evidenciamos cases e passamos credibilidade de que o uso da ACV pode ser um diferencial para quem usa e mapeia seus projetos e produtos assim como para quem obtém a informação como ferramenta de proposta de valor do produto, é uma metodologia com base na ciência e que movimenta uma comunidade científica de renome e credibilidade”, frisa Karla.

A executiva da Braskem vê a ACV sendo cada vez mais e mais utilizada, sendo parte estratégica na decisão por rotas tecnológicas, por lançamento e divulgação de produtos. “Importante dizer que vejo cada vez mais as conexões globais proporcionando uma maior utilização e troca de conceito e metodologia”, destaca.

A realização do 8º Congresso de GCV, promovido pela ABCV, é de muita importância para o prof. Dr. Diogo Aparecido Lopes Silva, professor e orientador do Dep. de Engenharia de Produção, da UFSCar – Universidade Federal de São Carlos por serum evento que é ainda relativamente novo, mas aconteceu em um momento crucial no país. “Pudemos, ainda de forma única, ter a oportunidade dês discutir sobre os progressos que tivemos na academia e na indústria sobre gestão do ciclo de vida de produto, avaliação do ciclo de vida, ecodesign, economia circular, e outros temas que são correlatos a essa área”, ilustrou.

Para ele, se não tivéssemos esse evento, seria muito ruim, porque os outros congressos que existem em diversas áreas de conhecimento, não contemplam esse tema da forma com a qual o congresso GCV contempla. “Esse é um diferencial que torna o congresso muito importante”, destaca.

Entre as suas observações, o professor Diogo Silva considerou interessante a apresentação da pesquisadora que estava falando da base de dados do Equador, quando abordou a necessidade de se pensar em modelos de negócio, que sejam híbridos. “Segundo ela, é importante que tenham uma parte gratuita de acesso, quando está relacionado ao financiamento público, e disponibilizar isso de maneira gratuita, e uma parte licenciada”, contou.

O professor acredita que o licenciamento pelo uso, principalmente para empresas ou estudos de consultoria, é uma opção viável. “Afinal, essas informações não são financiadas por órgãos públicos, então não há problema em cobrar por elas. No entanto, é importante considerar que muitas empresas brasileiras ainda não sabem como fazer isso. Por isso, é preciso simplificar o processo e oferecer suporte para que elas possam aproveitar essa oportunidade”, explica.

Ele considera que a disponibilidade de dados de inventário é uma limitação histórica da avaliação do ciclo de vida. Além disso, algumas empresas têm receio de que seus dados sejam divulgados, pois associam a avaliação do ciclo de vida à avaliação de impacto ambiental. “Esse receio decorre da falta de conhecimento sobre a importância de gerenciar o ciclo de vida do produto e divulgar as informações de forma transparente. Por isso, é importante que empresas participem de eventos como este, para quebrar o paradigma e perceber que a avaliação do ciclo de vida é uma aliada, não uma inimiga. A avaliação do ciclo de vida pode ajudar as empresas a serem mais competitivas e sustentáveis”, aponta.

O professor da UFSCar destaca que é necessário gerenciar o ciclo de vida para se ter essa evolução, sem a quebra desse paradigma, fica difícil.  “Essa mudança cultural, de medo de divulgar informação, ou de achar que vamos falar mal da empresa por conta daquele impacto que ela gera.  Este é um pensamento muito reativo e arcaico. E, na prática, não é isso o que acontece. Portanto, acho que as empresas que participaram desta edição do GCV, se tinham esse paradigma, com certeza elas não têm mais, porque ficou muito claro isso, com as palestras, com as discussões que tivemos, sobre como a avaliação do ciclo de vida, na verdade, ajuda as empresas. O que objetivamos é assessorá-las para ter uma economia de baixo carbono, o qual, inclusive, foi o tema do evento, que trouxe vários exemplos sobre isso”, cita.

GCV 2023

Momento das palestras

O futuro para ACV no Brasil se traduz em desenvolvimento e expansão

Gabriela Giusti, do Programa de Pós Graduação em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis da UFSCar/Rede de Pesquisa em Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida (RAICV), comenta da importância da regionalização de fatores de caracterização que o país tem como foco o avanço das metodologias de Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida, considerando o contexto ambiental, social e econômico do país. “Em muitas categorias de impacto os modelos de caracterização foram desenvolvidos para outros contextos geográficos, especialmente América do Norte e Europa, aumentando as incertezas para aplicação no país”, exemplifica. Nesse sentido, ela destaca a atuação da RAICV (Rede de Pesquisas em Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida), que busca recomendar, regionalizar e desenvolver categorias de impacto olhando para o contexto do Brasil. “Os trabalhos apresentados se enquadram nessa importante missão que os pesquisadores de AICV no Brasil têm, de reduzir as incertezas no cálculo dos impactos para o país, no nosso caso, especificamente para danos à saúde por formação de material particulado”, ressalta.

Ela destaca a importância de um Programa de Certificação Profissional de Pessoas em ACV no Brasil, pois o desenvolvimento de uma ACV demanda de conhecimento técnico e especializado, e por se tratar de uma modelagem matemática envolve diversos pontos de incerteza. “Com isso em vista, vejo que a Certificação Profissional em ACV no Brasil tem um aspecto ganha-ganha. Para o ACVista, a certificação pode servir para dar credibilidade sobre a sua atuação profissional, e do lado do contratante, pode servir como auxílio para seleção de profissionais competentes e com o conhecimento técnico necessário para o desenvolvimento de estudos”, observa.

Gabriela traduz sua visão de futuro para ACV no Brasil em duas palavras: desenvolvimento e expansão. “Em relação ao desenvolvimento, entendo que no Brasil ainda temos desafios metodológicos a serem superados, como a regionalização de modelos de caracterização para o contexto do país e a ampliação da nossa base de dados SICV-Brasil. Fico feliz em ver que esforços significativos têm sido feitos nessas frentes de trabalho. No que se refere a expansão, penso que o uso da ACV como ferramenta de auxílio à tomada de decisão deve ser priorizado por empresas e por instrumentos de políticas, visto que é a principal ferramenta de avaliação da sustentabilidade que de fato traz uma visão holística dos sistemas de produção e de serviços, impedindo, por exemplo, a geração de trade-offs ambientais”, informa.

GCV 2023

Momento de interação

A troca de experiências sobre ACV ajudam a quebrar barreiras que ainda existem junto aos empresários

Com sua experiência no Piauí, Dra. Elaine Aparecida da Silva, professora e orientadora do Departamento de Recursos Hídricos, Geotecnia e Saneamento Ambiental, e dos Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Mestrado e Doutorado) da UFPI – Universidade Federal do Piauí, aborda que no contexto da expansão da ACV, ainda se vê um resistência por parte dos empreendedores piauienses em pensar a questão ambiental de forma competitiva. “Eles ainda veem com um custo, isso faz com que não considerem ser aquilo que pode ajudá-los na questão econômica, assim não estão receptivos a fazer as ações em prol da sustentabilidade ambiental por meio da ACV. Na cultura empresarial do Piauí, por exemplo, eles pensam em diminuir o consumo de energia porque o valor da conta virá menor, mas não com o pensamento associado aos impactos que são gerados por conta daquele consumo elevado de energia”, explica.

Por isso, a participação no GCV 2023 mostra experiências que podem ajudar a quebrar essas barreiras. “Quando chego ao congresso e vejo grandes empresas que têm equipes que trabalham só com sustentabilidade ambiental, posso conferir a diferença grande que existe. No Piauí, temos todo um processo para convencer o empresário a deixar entrarmos na indústria para ter acesso às informações que eles não se sentem à vontade para compartilhar”, comenta. Elaine acredita que essa cultura vai mudar ao longo do tempo, conforme mais alunos estiverem trabalhando com o tema, trazendo a ACV numa perspectiva que o empreendedor veja que pode ser boa para ele. “Ele vai constatar que pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo, vai ter um retorno econômico, mas também vai ter processos mais ambientalmente responsáveis”, salienta entre outras considerações que podem vir a simplificar esse processo nos estados.

Por exemplo, ela cita a iniciativa do SIDAC (Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção) que foi apresentada no congresso. “Fiz um minicurso e achei muito interessante, porque é uma forma que tem uma relação direta com a ACV, mas é uma forma mais simplificada. Uma das dificuldades que percebo hoje, por exemplo, antes o meu grupo de pesquisa tinha um problema sério de não ter o programa. Tivemos o programa uma vez, compramos o SimaPro™ com o dinheiro de um projeto do CNPq, e deu tudo certo, só que depois a licença venceu e não tínhamos mais dinheiro para renovar. Aí apareceu o OpenLCA da GreenDelta, que foi ótimo e aprendemos a trabalhar com ele”, informa.

Para ela, o SICV (SICV Brasil – Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida do IBICT) também é uma iniciativa que ajuda nesse incremento porque o SICV está aberto e todos podem ter acesso. “Porém, acho que tem muitas coisas associadas à ACV que ainda tem custo elevado.   Normas são pagas, programas são pagos, banco de dados ecoinvent agora é pago e isso acaba dificultando mais essa disseminação da ACV e suas oportunidades de trabalho. Além disso, ainda é uma comunidade um pouco fechada. Agora, depois de um tempo é que estamos vendo que está se abrindo mais, se colocando mais à disposição para colaborações”, avalia.

Elaine observa que isso tudo é importante para que a ferramenta possa ser mais conhecida e possa ser mais usada. “Ela tem que ser apresentada de uma forma que o pequeno empreendedor veja como uma oportunidade para ele. Por enquanto, ainda é vista só como um custo”, atenta.

Entre seus apontamentos, em relação ao tema desta edição do GCV, a professora Elaine lembra que no Brasil, temos problemas ambientais sérios, alguns dos quais já foram resolvidos por países mais desenvolvidos. A Europa, por exemplo, não tem mais problemas de saneamento, que é um problema sério no Brasil e está diretamente relacionado à saúde pública. Desse modo, é compreensível a sua atenção e priorização em relação às discussões e iniciativas relacionadas às mudanças climáticas. “Não estou dizendo que não devemos discutir mudanças climáticas no Brasil, pois já estamos sentindo seus efeitos, como as variações de temperatura e as chuvas intensas em curtos espaços de tempo. No entanto, temos prioridades mais sérias, como saneamento, oferta de água potável, tratamentos de efluentes líquidos e gasosos e gestão e resíduos sólidos”, alerta.

Ela considera que também é importante não podemos nos concentrarmos apenas em alguns impactos, como a pegada de carbono. “Algumas empresas estão se concentrando apenas na pegada de carbono (visão do túnel de carbono), mas isso é perigoso, pois pode levar ao esquecimento de outros problemas importantes, como a poluição da água.

A especialista observa que é importante discutir esses problemas e abrir a mente para não nos concentrarmos apenas na pegada de carbono. “Temos que olhar para nossa realidade e priorizar os problemas que são mais urgentes”, pontua.

Sobre a importância de um Programa de Certificação Profissional de Pessoas em ACV no Brasil, ela concorda que é fundamental. “Esses estudos vão se transformar em norteadores. Então, a qualidade deles é importante e essa qualidade é refletida na qualidade do profissional que conduziu e nas escolhas que ele fez”, destaca, ressaltando que deve haver vários caminhos para essa certificação devido aos contextos diferentes que temos no Brasil e sendo necessário considerar essa realidade da ACV no Brasil, entre outras questões.

GCV 2023

Integrantes da Comissão Organizadora

Tropicalizar os dados sobre a emissão brasileira, com base na ACV, vai representar melhor o país em termos internacionais

A participante do 8º GCV, Vivian Dinamarco, Analista de Sustentabilidade, da JBS – Couros, quando questionada sobre o seu próprio envolvimento e de sua empresa com o tema ACV ou o quanto representa a sua área, obtivemos a resposta: “O envolvimento da JBS Couros e particularmente meu com ACV é muito intenso, nossa estratégia de Sustentabilidade é construída considerando-se o Pensamento de Ciclo de Vida, então para nós, é algo presente e crescente”

A JBS Couros, em especial, iniciou suas atividades em ACV em 2020 e desde então, buscou entender também através dessa perspectiva, os impactos do seu processo produtivo e do seu produto ao longo da cadeia. “Desde então, investimos na expansão das nossas competências em ACVs, conduzindo múltiplas modelagens de diferentes cadeias produtivas”.

“Para 2024, desejamos focar na governança dos nossos processos de ACV e no fortalecimento do time envolvido com gestão de ciclo de vida para a JBS Brasil como um todo”.

Segundo Vivian, a empresa quer entender os diferentes impactos ambientais que geram a partir da visão de ciclo de vida. “Considerando que seguimos as metodologias e inventários mais atuais, temos a intenção de conseguirmos ‘tropicalizar’ cada vez mais os dados que usamos”, destaca.

Esse plano leva à expansão da aplicação do potencial de uso da ACV pela disponibilidade de dados mais precisos. “Buscar, de fato, tropicalizar os nossos dados, pode, unir o setor privado e a academia na busca para entender melhor as externalidades em território nacional, para que possamos fazer uso de um dado que, de fato, nos represente. Isso vai nos ajudar a consolidarmos cada vez mais uma cultura de melhoria contínua com base na perspectiva de ciclo de vida”, diz Vivian.

Fotos: ABCV/Divulgação