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A proibição do uso de canudos plásticos tem sido causadora de grandes polêmicas em todo o Brasil. O fato da Prefeitura e Governo de São Paulo, por exemplo, terem sancionado recentemente leis que proíbem o uso de canudos plásticos mostram que mesmo diante da necessidade de reduzir os resíduos gerados por este tipo de produto, o banimento do uso parece algo muito radical.

Edison Terra

Edison Terra é coordenador da Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas (Coplast) da Abiquim

De acordo com as novas regras, no lugar do material plástico, os estabelecimentos deverão fornecer canudos em papel reciclável, material comestível, ou biodegradável, embalados individualmente em envelopes hermeticamente fechados feitos do mesmo material. Tais medidas destacam que haverá mudanças no dia a dia consumidor e, especialmente, na cadeia produtiva do plástico.

“Para construir um cenário favorável, toda a cadeia tem que se engajar, desde consumidores adotando o consumo conscientemente, de modo responsável e descartando adequadamente. Os estabelecimentos de varejo e comércio disponibilizando locais adequados para descarte de recicláveis. O poder público tendo gestão adequada dos resíduos e viabilizando a economia circular, entre outras ações”, diz Edison Terra, coordenador da Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas (Coplast) da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), que concedeu uma entrevista para o canal Ecowords e falou sobre os desafios e soluções que envolvem o universo dos resíduos plásticos no País. Confira:

Como a Abiquim, através da sua Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas, se posiciona diante dessa lei? Proibir os canudos plásticos é uma solução para reduzir o descarte de plásticos e resolver o problema desse resíduo?

Antes de qualquer banimento, importante avaliar os impactos ambiental, social e econômico de tal decisão. Muitas decisões estão sendo tomadas sem avaliar os impactos do banimento e das soluções alternativas.

Entendemos a necessidade de resolver o problema da gestão de resíduos, principalmente do lixo nos mares. Mas quando falamos de impacto ambiental, não se trata somente do descarte, mas também de todos os impactos no ciclo produtivo, tais como: emissões de CO2, utilização de energia, água, solo, dentre outros. Não podemos esquecer que o banimento não é solução para o descarte ou a gestão inadequada de resíduos plásticos.

Para resolver o problema, toda a cadeia tem que se engajar, desde consumidores adotando o consumo consciente, de modo responsável e descartando adequadamente. Os estabelecimentos de varejo e comércio disponibilizando locais adequados para descarte de recicláveis. O poder público tendo gestão adequada dos resíduos e viabilizando a economia circular. A indústria de reciclagem desenvolvida para iniciar um novo processo produtivo. Os Brand Owners valorizando o reciclado e utilizando em seus produtos e os fabricantes desenvolvendo soluções circulares.

A proibição é considerada radical pelos empresários do setor?

A proibição abrupta elimina todo um setor produtivo, sem que sejam analisadas outras soluções mais eficazes para o problema. Lembrando que os produtos podem ser adequados para uso em uma situação e não em outra e o banimento nivela todas elas.

Na opinião da entidade, quais são os prós e contras dessa proibição?

Além de trazer impactos econômicos negativos, a proibição não resolverá o problema da falta de gestão adequada dos resíduos. Pode reduzir o volume de resíduos plásticos, mas aumentará a geração de outros tipos de resíduos, hoje já tem canudos de papel, metal, vidro, bambu dentre outros que poderão trazer outros impactos ao meio ambiente. O lado positivo é a discussão que isto provoca e a chance que temos de amadurecer a visão de todos nós sobre o tema.

A questão dos resíduos plásticos, em geral, tem movimentado bastante a opinião pública. A Abiquim tem desenvolvido alguma iniciativa que vise soluções viáveis e que não prejudique o setor produtivo ligado aos plásticos? Poderia dar exemplos?

A Abiquim lançou, no ano passado, seu compromisso para desenvolver a Economia Circular. Acreditamos que o plástico é uma solução sustentável, pois trouxe grandes avanços para a sociedade, como na saúde, setor automotivo, agricultura, extensão de vida útil dos alimentos dentre outros, mas a gestão inadequada dos resíduos plásticos tem gerado impacto ao meio ambiente, por isso, nosso compromisso de transformar a economia linear em circular, em que o resíduo passa a ser matéria-prima para um novo processo produtivo é o caminho para solução deste problema.

As nossas associadas estão empenhadas em desenvolver soluções mais sustentáveis, com utilização de conteúdo reciclado em seus portfólios de produtos, apoiam ações de educação ambiental, investem em cooperativas de catadores e inovação e tecnologia para o desenvolvimento da reciclagem tanto mecânica como química.

Em seus processos produtivos adotam o Programa Pellet Zero, em que aprimoram suas instalações e processos para não ter vazamento de pellets ao meio ambiente. Participam, ainda, do Fórum por um Mar Limpo em que em parceria com a USP desenvolvem iniciativas de identificação dos resíduos de maior incidência nos mares e ações de educação ambiental.

Individualmente, as associadas têm um conjunto enorme de iniciativas específicas de Economia Circular que podem ser multiplicadas e ajudam a aumentar o grau de consciência de todos.

Qual é a recomendação da entidade em relação ao assunto junto aos seus associados?

Os associados e a Abiquim seguem com suas ações para implementação da economia circular, focado em ações concretas e efetivas para solucionar o problema da gestão inadequada dos resíduos plásticos, atuando também junto com a cadeia para levar mais informação para legisladores e executivos do impacto de decisões sem embasamento na ciência, ou seja, sem avaliar impactos ambientais, sociais e econômicos.

Segundo o Compromisso para desenvolver a Economia Circular, as empresas associadas produtoras de resinas termoplásticas associas à Abiquim têm como aspiração que até 2040 100% das embalagens de plástico sejam reutilizadas, recicladas ou revalorizadas. Como meta intermediária, o objetivo é atingir 50% até 2030. Ao assumir esse compromisso as empresas ampliam o trabalho que já desenvolvem por meio do Programa Atuação Responsável®, ação voluntária da indústria química mundial e com a qual se comprometem todas as associadas da Abiquim.

E quanto ao consumidor, existe algum trabalho da Abiquim envolvendo a sua conscientização em relação ao descarte adequado dos plásticos?

Temos ações de educação ambiental junto com a Plastivida e nossos associados junto à Edukatu, com o objetivo de trazer conscientização tanto para o consumo, como para o descarte, envolvendo crianças do ensino fundamental I e II.

Como exemplo, entre os dias 22 e 24 de março, a Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas (Coplast) realizou, durante o lançamento do Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar, em parceria com a Plastivida – Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos, e o Instituto Oceanográfico da USP o Programa de educação ambiental “EnTenda o Lixo”, nas cidades de Santos e Ilhabela, no litoral paulista.

O Programa “EnTenda o Lixo” engloba diversas ações de educação ambiental com o objetivo de conscientizar turistas e moradores sobre os malefícios que a presença de resíduos sólidos nos oceanos pode acarretar. A iniciativa busca engajar a população sobre atitudes de consumo consciente e da disposição correta dos resíduos sólidos, para que adotem assim um comportamento de respeito ao meio ambiente.

Durante esses dias, diversas atividades foram desenvolvidas, principalmente para o público infanto-juvenil. Uma delas foi a distribuição da história em quadrinhos “Mariana e a batalha contra os supermacabros: a ameaça do lixo nos mares” que busca sensibilizar a sociedade através de uma história envolvente, sobre os problemas do descarte incorreto dos resíduos que chegam aos oceanos e evidencia a importância de cada cidadão no descarte correto e na preservação do ambiente marinho.

A impressão gráfica da história em quadrinhos para esta ação contou com o apoio do Coplast.

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