Hierarquia, disciplina, arquitetura e… segurança alimentar
Seja qual for o tipo de escola, as aulas mais interessantes da iniciação acadêmica são: a experiência da germinação do feijão no copinho com algodão úmido; a curiosidade da fotossíntese na prática, na transpiração da planta; o universo contido em uma colmeia e a descoberta do ‘milagre’ da polinização. A partir dessas vivências, o mundo começa a ser transformado no imaginário das pessoas e são as primeiras formas de compreender (ou não) o complexo conceito de evolução e de cadeia alimentar. Desde que o mundo é mundo, as abelhas são exemplo de organização, produtividade, arquitetura e civilidade.
Eis que chegamos ao século 21 e, seria frustrante se não fosse desesperador, lidar com a notícia da ameaça de extinção das abelhas e do que elas representam para os mais de sete bilhões de humanos. Há tempos que a biodiversidade está entre as preocupações da comunidade científica, mas o alerta agora é da Organização das Nações Unidas (ONU), que lançou recentemente a informação de que a manutenção de cerca de 30 mil espécies de abelhas polinizadoras no planeta está comprometida devido ao uso de pesticidas, a exploração inadequada do solo e monocultura extensiva. Em complemento, a FAO – divisão da ONU que trata da alimentação e agricultura – ressalta que 75% dos cultivos da alimentação dependem das abelhas.
Essa realidade é mais um exemplo de que o homem age sem observar o ciclo da vida, demonstrado desde sempre pelas mais diversas espécies do ecossistema. Lança mão de recursos predatórios para produzir mais alimentos, enquanto não percebe que interfere no curso da vida. Os agrotóxicos que permitem encher as lavouras, acabam por exterminar o agente natural mais poderoso e eficiente.
Resta, a nós, acreditar e incentivar os centros de pesquisas que lutam na contramão da busca pela safra mais produtiva, entidades empenhadas em fornecer subsídios para reverter essa condição. No Brasil existe a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) , dedicada à conservação da biodiversidade brasileira e à convivência harmônica e sustentável da agricultura com as abelhas e outros polinizadores. No site da associação é possível encontrar estudos e números para conhecer a causa, mais uma pela qual se pode engajar para mudar o mundo.
As fascinantes colmeias, das aulas da infância, continuam sendo muito mais inteligentes do que qualquer laboratório de pesticida. Mais uma vez, a lição é de que quantidade não representa qualidade.
Cristiane Del Gaudio
Jornalista, assessora de imprensa, mulher, mãe e ser humano em defesa de um mundo melhor.